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Aqui contém cenas explícitas de minha nudez ao avesso, para melhor visualização feche seus olhos. (Mary Backes)

sábado, 26 de maio de 2012

Fazes-me falta


Desfiar tua ausência, pois me aflige
tecer sozinha este enternecimento,
e meu corpo é bordado pensamento
de juntar teu desejo ao meu desejo (...)

Musicar tua ausência, que meu sonho
 — em cada gesto que se prenuncia
compõe nas veias pautas de agonia,
acordes dissonantes em meu corpo.

(Yeda Prates Bernis)

sexta-feira, 18 de maio de 2012

...é a mesma falta de sentido que tem a veia que pulsa. E enquanto vivo me estremeço toda.


Fixo instantes súbitos que trazem em si a própria morte e outros nascem - fixo os instantes de metamorfose e é de terrível beleza a sua seqüência e concomitância.
Agora está amanhecendo e a aurora é de neblina branca nas areias da praia. Tudo é meu, então. Mal toco em alimentos, não quero me despertar para além do despertar do dia. Vou crescendo com o dia que ao crescer me mata certa vaga esperança e me obriga a olhar cara a cara o duro sol. A ventania sopra e desarruma os meus papéis. Ouço esse vento de gritos, estertor de pássaro aberto em oblíquo vôo. E eu aqui me obrigo à severidade de uma linguagem tensa, obrigo-me à nudez de um esqueleto branco que está livre de humores. Mas o esqueleto é livre de vida e enquanto vivo me estremeço toda. Não conseguirei a nudez final. E ainda não a quero, ao que parece.

Esta é a vida vista pela vida. Posso não ter sentido mas é a mesma falta de sentido que tem a veia que pulsa.

(Clarice Lispector - Água Viva)
 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

em um coração deveras largo


"(...) Meus cantos todos calados uma homenagem ao silêncio, senhor de todo caminho deserto."

terça-feira, 1 de maio de 2012

Taquicardia


Outro dia perguntei a meu coração:
o que há durão, mal de chagas te comeu ?
Não, ele disse: é desprezo de amor.

(Adélia Prado, in: Bagagem. Ed. Record)